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UM CARNAVATE DE POTÊNCIA

“Que rufem os odores”

  1. CARNAVADIAGEM
fico, no carnaval, de tão podre
de rico, pobre: um ser ínfimo
infestado pela festa infernal
que me cobre como coceira
e danço, danço, danço, até
que desça um santo, pela veia
sacro púbica do meu quadril
de quebranto, que me guia
pela carnavadiagem sem volta
… um carnavate de potência.



  1. CARNAMAISVALIAS
(Salvador)
fechado
o carnaval
pra balanço
das cinzas
saldos suados
das latas de alumínio
moedas de troca
das cordas de corpos
fiapos de cédula
das avenidas de visgo
quilômetros de lucro.
a transnacional do trio elétrico
investiu em alta rodagem.
fubica já nem se fabrica
a brincadeira já saiu de linha
marchinha é a última ficha
fetiche de radiola.
e o resto é arrastão
murro na boca.
silêncio.



  1. CARNAVIAIS
(Pernambuco)


I


um canavial não carnavalia
um folião de olinda na ousadia
e doçura dançante da cidade
triunfar sua frivolidade
no frevo que se farreia
em cada fanfarra
por uma boca
de garrafa beijada
que se jura ser
a última jurubeba
do deserto


nada está
perto do fim
antes da apoteose
déspota despontar


 II
os carnavarrios correm
do recife antigo abaixo
desembocam em colos
macios de manguezais
e em várzeas de ventres
fecundos onde carnaviais
de gente gemem os seus
profundos gozos alagados.

4.CARNAMARES
(Rio de Janeiro)
I
estávamos no grande mar carnavalesco
uma moura arábica rubro-amorosa
outra animalesca itálica prosaica
e eu, romano, quase romântico, que
ao roçar impérios entre beijos, bafejava
juras de amor noturno: prazer eterno
entupido de fantasias, entre fadas
cleopatras nipônicas, nupciais cocotas
principescas, desescamadas sereias
roucas, gregas negras e baianas brancas
todas elas a gargalhar regalias


no grande mar carnavalesco
convalescente salão de bêbados
que em carnáguas, dançam valsas
ternárias ou duetos solitários
marcham maracatus, tropeçam
frevos, caem no coco de ciranda
rodam capoeira na cama e quando
tudo se assenta, em um sagaz samba
de mesa, mãos aos pares pairam
sobre a beira da fumaça…
e se faz um beijo de cinzas


II
todo sambódromo tem um pouco de autorama
samba na linha de montagem só o motor rouco


ENREDO PARA RAINHA DE CARNAVAL

dança de abebé aberto
do abaeté beiramar até
o grande mar de gente
que teu gesto regente
tanto agita e apazigua

segue no seu lento
ziguezague de barravento
e correnteza dançarina
alteza de teu ritmo
rindo o verbo resistir


transborda do turbante
diante da branca soberba
a tua soberania negra
e bracelete a bracelete
búzio a búzio enfeite a ti


envolve com teu afeto
o feto da festa: a dança
e coo-mova ouro e aura
que a história se restaura
no retrato de tua glória.

“Cauda vale a cabeça

Carne vale o carnaval”


CARNAVAL DE PERGUNTAS

[1]
com quanto de sal do mar
se faz um bom folião pipoca ?
[2]
pré-carnaval é como cheque pré-datado?
[3]
Quando vão distribuir camisinha pra cada cerveja comprada ?
[4]
A água mais barata do mercado é a água dura ?
[5]
Se alguém roubar um beijo de outro alguém que roubou um celular, cem anos de perdão ?
[6]
O motorista do trio elétrico volta pra casa de ônibus ?
[7]
Profissionais de relações públicas fazem sexo na rua ?
[8]
Se a festa fosse patrocinada por uma loja de instrumentos musicais, a qualidade sonora seria melhor ?
[9]
Por que a banda marcial não toca no camarote da polícia militar ?
[10]
Por que as escolas de samba não sofrem de evasão escolar ?
[11]
quarta-feira de cinzas o vento leva ?


PARÓDIA CARNAVALESCA


eu sou o carnaval em cada esquiva da violação
e até quarta de cinzas tô na ativa
só no erro e tentativa
já sei bem que não é não


eu sou o carnaval em cada esquiva da sua agressão
e até quarta de cinzas tô na ativa
sem gastar minha saliva
lhe digo que não é não


e várias cores vão se juntar
rosa choque, azul bebê
e todas horas vão se ajustar
ao fuso do fuzuê 


tem mina com mona
rei momo dirá
no carnaval todo mundo
tem par

“Pátria Amada Quadril”

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